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Pernambuco, 11 de fevereiro de 2025

Agronegócios

O governo Trump e o agronegócio brasileiro

Os Estados Unidos em primeiro lugar

Postado em 23/01/2025 2025 18:33 , Agronegócios. Atualizado em 29/01/2025 18:10

Colunista

Os Estados Unidos continuam sendo a mais importante nação do ponto de vista agrícola no planeta. É aquela que mais grãos produz por décadas, através de suas bolsas de valores, notadamente a de Chicago, delineia os preços e estoques de produtos agrícolas em todos os continentes.

Por outro lado, há de se considerar que desde a queda do muro de Berlim e, em consequência da União Soviética, o mundo deu muitas voltas. Deixando de ser um condomínio fechado com dono único para ser  algo mais aberto, o que no jargão diplomático se diz multipolar. Esta nova reconfiguração não foi do agrado americano que gostaria de se considerar o xerife do mundo, mas é o que se vê. Além da ascensão da China, outros países desejam se fazer presentes nas discussões maiores, a exemplo da Rússia, da  Índia, do Irã, da Arábia Saudita, da Turquia, do México e do Brasil.

Tem havido um certo desconforto entre os líderes americanos em ter que dividir o lugar antes intocável na cabeça da mesa com a China. Não havendo como contestar, uma vez que este país se tornou o principal parceiro comercial de mais de cem nações. Sendo aí onde entra o jogo dos agricultores americanos junto a Doutrina Trump, que a maioria aplaudiu e apoiou. Duas questões começam a preocupar o agronegócio dos Estados Unidos. A primeira é a deportação em massa de imigrantes ditos ilegais, aparentemente indesejáveis, mas são aqueles que colhem as hortaliças, as frutas, cuidam dos rebanhos e estão presentes nas atividades mais duras, em todos os segmentos. Sem esses latinos e asiáticos a poderosa agricultura entra em colapso. Não há mão-de-obra disponível, o custo é elevadíssimo e nem tem quem queira passar o dia ao sol escaldante do verão do Texas ou Arizona.

A segunda é mais grave, os chineses resolveram diminuir a compra de produtos agropecuários dos Estados Unidos, levando  o produtor americano a rever sua estratégia de mercado tendo à frente alguma dificuldade na inserção de seus produtos, em especial os cereais e os produtos à base de carne. Um desastre para a base rural americana. Algo similar ao que ocorreu no Brasil em 2019 quando o governo brasileiro resolveu reverenciar os concorrentes e desprezar seus clientes preferenciais. Deu no que deu.

Um mundo multipolar

O mundo é tão multipolar quanto são os compradores de grãos, carnes, frutas, açúcar, polpa de papel e sucos. Foi-se o tempo em que o Brasil dependia da venda de dois produtos: café e açúcar. Atualmente conta com um mercado abrangente e que interage com mais de cem países. Neste sentido, para os agricultores brasileiros, apesar da romaria de algumas lideranças a festa no gélido Washington para a posse de Trump, o correto é não haver alinhamento automático com nenhuma força mas  colocar o Brasil e seus produtos em primeiro lugar.

As conquistas de produtividade, sustentabilidade e mercado são tão marcantes que não há outro caminho a não ser o de se insistir em modernizar as práticas agrícolas, tornando-as mais conectadas aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e o mercado mundial que a cada dia será maior e mais exigente..

Consistência da política externa brasileira

Em a política externa não atrapalhar e isto o que tem se observado da desenvoltura do governo brasileiro perante as nações, fortalecer a comunicação com a África, como mercado emergente e com a Ásia, um mercado em crescimento acelerado quer por comodities, quer com produtos mais refinados. O fato é que o país deve ser mais agressivo, participar dos fóruns internacionais em que se discuta o futuro do planeta, sem abrir mão do fato de ser uma das principais fontes de conhecimento sobre o setor e todo o mundo.

As portas abertas pelo Brasil, particularmente na África e na Ásia, lhes dão a condição de parceiros preferenciais para chineses e indianos, substituindo parte do que os Estados Unidos estão graciosamente desprezando e colocando e colocando a o eixo supridor. A Argentina comete o mesmo erro brasileiro anos atrás e corre atrás de quem é seu competidor no mercado internacional de produtos agropecuários. Apesar da leitura catastrófica de alguns, o fato é que a produção brasileira não para de crescer e consolidar-se a cada dia em novos produtos, a exemplo do trigo e do centeio.

De modo geral, o que se tem a dizer é que a doutrina Trump é benéfica aos interesses brasileiros. Não por vontade própria mas pelo fato de fazer com que uma substancial parcela do mercado procure o Brasil como opção por razões políticas, econômicas ou ideológicas outros mercados. Sendo a rota a ser trilhada pelo país.

A Secretária de Agricultura dos Estados Unidos é uma Aggi

Curiosidade à parte, a Sra. Brook Rollins, a texana escolhida por Trump para comandar a pasta da agricultura estudou desenvolvimento rural no Texas A&M University, uma das mais tradicionais, conservadoras e respeitadas universidades americanas que prega e pratica princípios como ética, lealdade, esforço e solidariedade entre seus pares, onde quer que estejam. Falo isto com orgulho uma vez que foi nesta escola onde obtive o grau de doutor em melhoramento genético vegetal e, posteriormente, um pós-doutorado em biotecnologia.

Basta a Senhora Rollins colocar em prática aquilo que aprendeu na pequena College Station e, com certeza, será uma Secretária, como os Estados Unidos denominam seus ministros, de grande envergadura e administra o futuro da agricultura americana com sabedoria e atenção para o fato de que todos têm o direito de um lugar no banquete, inclusive os exportadores de frutas de Pernambuco, Rio Grande do Norte e do Ceará.

1Professor Titular da UFRPE-UAST