
O preço da carne bovina e dos ovos nos países americanos
Na mesa de todos
Postado em 20/02/2025 2025 18:29 , Agronegócios. Atualizado em 20/02/2025 18:29
Na mesa de todos
Há duas semanas este tema foi tratado nesta coluna. Pela importância econômica e social ele volta à pauta, considerando dois alimentos básicos, a carne bovina e os ovos. O contrafilé, a alcatra ou o filé são cortes nobres e representam bem a preferência das classes mais afluentes. Sem esquecer da picanha como símbolo indiscutível do churrasco especialmente na região Nordeste.
Entre todos os seus atributos nutricionais há um, de ordem econômica, irrefutável, o preço. Nenhuma proteína animal de qualidade consegue chegar ao varejo a um valor tão competitivo e devido principalmente a este fator passou a ser a principal fonte proteica entre a população mais humilde. No que se refere ao interior do Nordeste, os dois alimentos que melhor representam a boa dieta, sendo adotados de modo universal, são o cuscuz e o ovo. Há de se encontrar quem não goste de um desses dois ou até de ambos mas a maioria absoluta de nordestinos são fascinados pelo cuscuz e pelo ovo frito.
O mercado mundial em plena instabilidade
Desde algum tempo o preço dos alimentos está em alta. No Brasil, por exemplo, nos últimos quinze anos a inflação dos alimentos é superior à inflação geral. Há um alerta no ar sobre o aumento dos preços nos últimos meses e, neste caso, abrem-se as baterias de caça aos culpados. O governo? Produtores? Intermediários? Indústria? Varejistas?
Vamos com parcimônia ao caso. Nos últimos anos, por exemplo, a avicultura pernambucana sobreviveu com baixíssimas margens de lucro, principalmente com a disparada dos insumos, a saca de milho chegando a custar cento e dez reais no mercado regional e a soja o dobro desse valor. Uma bandeja com trinta ovos chegou a ser comercializada a doze reais. O interessante é que naquele momento poucos se deram conta de que uma das cadeias produtivas mais dinâmicas e importante para o estado se encontrava sob risco. Os empresários do setor foram ousados, procuram produzir o que podiam, em especial o milho, no estado, desde a Chapada do Araripe ao Agreste Meridional e até na Zona da Mata, como é o caso de Glória do Goitá, o que proporcionou um alívio e de uma hora para outra a produtividade de milho do estado, estacionária em pouco mais de setecentos quilos por hectare começou a se mover para cima.
Neste instante, e particularmente a partir da posse do novo governo dos Estados Unidos, com as ameaças de aumento de tarifas alfandegárias, os preços disparam para os cidadãos americanos. Para se ter uma ideia da situação crítica em que esta situação de desequilíbrio comercial expôs o país, o preço de um quilo de carne de primeira, nos supermercados americanos custa em média, 16, 14 dólares, o que equivale ao câmbio de hoje, R$ 92,00. Já no Brasil, utilizando-se da mesma fonte, o NUMBEO, um site especialista em levantamento de preços, o valor da carne é de R$ 40,41, sendo que somente três países no continente contam com carne bovina mais barata, a Venezuela, o Equador e a Bolívia.
Em relação aos ovos a situação é muito mais crítica. Apesar do site citado haver informado que o preço de uma dúzia de ovos nos Estados Unidos em média é de US$ 3,96, o equivalente a 22,52, alguns jornais da semana informam que a dúvida de ovos chegou a alcançar o patamar de R$ 42,00, com uma alta superior a 20% nas últimas quatro semanas. No Brasil, a dúzia de ovos é cotada a R$ 11,20, chegando a ser oferecida esta semana nos supermercados de Serra Talhada a bandeja com trinta ovos a R$ 22,00. Enquanto esta rodada de ameaças não se arrefecer os alimentos estarão em alta, causando sérios danos aos mais pobres, em particular.
Uma intervenção no mercado deve ser muito bem planejada
Para quem não conhece o Plano Funaro, que com a melhor das intenções, controlar o preço dos alimentos e a inflação no Brasil à base da portaria e do decreto, fique certo de que não é uma boa ideia. A presença do governo na economia é saudável, caso contrário, o combustível, por exemplo, já se encontraria a preços bem mais elevados mas não pode se dá todo tempo e com todos os produtos. Muitos clamam pela mão pesada do governo. Alguns por completa ignorância dos fundamentos econômicos, outros por puro oportunismo e alguns por pura má fé. A verdade é que cabe ao governo incentivar e apoiar a produção, controlar a especulação, não o mercado e deixar que as águas se acalmem.
Quanto aos produtores a situação é simples. Preços elevados nem sempre significam melhor remuneração, a exemplo das commodities que são produtos negociados via bolsas de mercadorias e mercado futuro, que nem sempre previram esta disparada nos valores dos alimentos a nível global.
Ainda temos um dos alimentos mais baratos
O Brasil, é importante que se deixe claro, é um dos países que conta com os alimentos mais baratos. No caso dos ovos e da carne bovina ele se coloca no 12º. e no 14º. Lugar, respectivamente, entre os países da América do Norte, Central e do Sul. O alerta fica dado. Esta turbulência somente acalmará quando o governo americano se convencer que quem mais está sendo sacrificado são seus cidadãos, cabendo ao Brasil ter calma e ver para onde vai esta nau e quais serão as opções mais adequadas para ele.
1Professor Titular da UFRPE-UAST