

Feira da agricultura familiar em Pernambuco, uma conquista
II Feneaf
Postado em 18/09/2025 16:49
Há três anos, o IPA tomou uma iniciativa mais do que louvável: promover a agricultura familiar pernambucana como um ambiente de negócios. Durante a semana que passou, foi realizada a feira anual, agora denominada II FENEAF. Cabe aqui um registro de que, após o sucesso da primeira feira, não havia razão para se mudar o nome do evento. Sendo assim, a feira não se consolida, uma vez que cada administração a mostra como se fosse sua. Apesar disto, a verdade é que as instituições promotoras, a começar pelo IPA, merecem o devido reconhecimento. Por parte do governo federal, diga-se, MDA, um dos principais patrocinadores, ficou claro que investir em iniciativas similares em todos os estados da federação é não apenas recomendável, mas essencial para fortalecer o setor que representa mais de quatro milhões de imóveis no país e uma parte substancial da produção de alimentos. O diferencial da feira foi a mobilização realizada pela área de extensão do IPA em conseguir trazer representação de mais de cem municípios de todas as regiões do estado.
Participação massiva
Não é todo dia que se consegue congregar mais de cento e cinquenta estandes de apresentação, divulgação e venda de produtos, o que demonstra que o governo estadual, investindo no apoio àqueles que fazem a agropecuária do estado e usando com a devida sabedoria a capilaridade dos escritórios, estações experimentais e campos de produção do IPA, consegue fazer a diferença em termos de presença e aproveitamento das políticas públicas, a exemplo do crédito rural disponível, mas nem sempre acessado pelos tomadores.
Neste ambiente, os bancos públicos e privados tiveram a possibilidade de sentir onde estão seus clientes potenciais e de como chegar até eles. Além disto, fica o alerta para a assistência técnica e de defesa agropecuária sobre a necessidade de procurarem melhor se aproximar dos produtores, desburocratizar as exigências legais sem perder de vista que ser ágil não significa ser relapso. As ameaças e riscos à saúde pública em se tratando de produtos alimentares, destacando-se as carnes e os lácteos, são intensos e permanentes, demandando assim um trabalho construtivo de educação de modo que o pequeno e médio produtor e processador de alimentos tenha acesso ao mercado que varia da feira livre aos supermercados mais sofisticados.
As instituições de fomento devem aproveitar a oportunidade de se jogarem mais intensamente no interior do estado à procura de projetos que possam ser apoiados como empréstimo ou outra forma qualquer de subsídio, mas que sejam portadores de mudanças permanentes entre essas comunidades.
Cadeias produtivas em destaque
Merece destaque a participação de representantes de algumas cadeias produtivas, iniciando-se pela apicultura. Estimo que ao menos vinte stands disponibilizam mel, própolis, cera, hidromel, licores e vinagre. O interessante é que o setor se organiza da Zona da Mata e do litoral ao Sertão do Araripe. Volto a comentar sobre o efeito positivo da apicultura e da meliponicultura sobre a defesa da cobertura vegetal e do meio ambiente de modo geral. Onde se produz mel, seja na Mata Atlântica ou na Caatinga, são bem mais protegidas. Senti falta de uma das mais organizadas cooperativas de pequenos agricultores de Riacho Grande, em Araripina, liderada pelo Sr. Edinho. Com certeza, está como outras, devem fazer todo o esforço possível para participar das edições vindouras.
A diversidade de produtos lácteos de leite bovino e de cabra é algo positivo. No caso dos queijos de cabra, chamou a atenção os representantes de Alagoinha no Agreste, como uma pequena empresa de Custódia, no Sertão. Produtos padronizados, bem apresentados e que merecem servir de modelo de como a pequena indústria de laticínios deve ser vista no estado. O queijo é um produto nobre e, a partir desta constatação, práticas que levem à valorização do produto devem ser implementadas. A terceira cadeia produtiva que gostaria de mencionar é a da carne de bode e de carneiro. A cooperativa de produtores de caprinos e ovinos de Petrolina, com abrangência entre os produtores de Dormentes, trouxe a carne em formato de espetinho, fritando em tempo real e chegando a formar fila de clientes para pegar cada batelada da churrasqueira elétrica.
Não faltaram as frutas em destaque: a banana, as laranjas e limões, as túberas representadas pela batata doce, a macaxeira e o inhame, e, da Mata Norte, o suco da tão conhecida uva Isabel.
Comercialização, o nó górdio
Desta grande amostra, fica claro que produzir não é uma tarefa fácil, mas levar o produto ao mercado consumidor é ainda mais difícil. A venda online, que se estruturou entre as principais lojas de eletrodomésticos e de alimentos durante a pandemia, ainda não tem sido devidamente incorporada ao pequeno e médio negócio rural. O estado conta com uma rede de representações em todos os municípios, logo, procurar desenvolver uma plataforma de negócios, também conhecida como marketplace, capaz de apoiar a associação, cooperativa ou mesmo o produtor individual onde ele esteja, é algo possível de ser feito em um estado que conta com um aparato de instituições públicas e privadas de suporte a negócios da internet e inteligência artificial como Pernambuco. Os formatos tradicionais de oferta da pequena produção encontram-se em um rápido processo de otimização e, tal qual outros setores, a exemplo da saúde, devem também ser postos à disposição da agricultura familiar e das pequenas e médias indústrias. Quiçá na próxima Feneaf um modelo de plataforma já esteja sendo implementado, trazendo um alento ao pequeno empreendimento que nem sempre é visto como tal. Vale enfatizar que todo e qualquer imóvel rural é uma unidade de negócio e assim deve ser vista por quem elabora as políticas de gestão e mercado no país.