

Como tornar o ensino superior atrativo?
Escolas disponíveis
Postado em 25/09/2025 20:24
Nos últimos meses, temos nos defrontado com várias análises mostrando que houve um divisor de águas quanto à presença dos jovens nas salas de ensino superior após a fase aguda da pandemia, 2020-2021. Apenas uma fração retornou à escola para completar cursos que deixaram de compartilhar a maior de todas as virtudes, a convivência universitária. Durante a pandemia, milhões de jovens tiveram que reprogramar suas vidas e procurar um espaço no mercado precoce de trabalho. Um outro grupo, desencantado, não via o ensino superior como uma oportunidade de ascensão social e cultural. Passou a considerar uma perda de tempo. A realidade é que, apesar do esforço em semear novas universidades e campi pelo interior do país, esta política positiva não foi o suficiente para manter a juventude atraída para a escola.
Atualmente, que se diga, são raras as especialidades que não estão contempladas nas escolas do interior do Nordeste e do Norte. Algumas áreas, como as engenharias, estão bem contempladas, faltando, na maioria dos casos, candidatos em número suficiente para preencher as vagas disponíveis. Uma outra tendência detectada foi o aumento excessivo dos cursos de medicina, em especial por escolas privadas ou, na última onda, ligadas a autarquias municipais de ensino que fizeram e fazem um bom papel em diversas áreas, mas que não estariam devidamente qualificadas para cursos como a medicina, a odontologia, a nutrição, a biomédica, a enfermagem e outras profissões conexas. Fenômeno que não é bom para a sociedade de modo geral, uma vez que, em breve, além de se contar com excesso de profissionais, haverá dificuldade de separar o bom do sofrível.
Salas vazias.
Uma questão que persiste é o fato de que alguns cursos não se mostram suficientemente atraentes e não conseguem um número de entrantes que justifique a estrutura disponível, mesmo quando fica claro que a economia local demanda pessoas qualificadas com esses perfis profissionais. Por outro lado, há de se admitir que algumas escolas privadas, apesar de enfrentar o mesmo problema de evasão, continuam contando com salas com nível de ocupação elevado, contradizendo o corolário comum que, pelo fato de serem pagas, contariam com um número bem mais reduzido de alunos. É verdade que programas de empréstimos estudantis, a exemplo do FIES, resolvem parcialmente esta situação, embora o aluno saiba que, ao concluir seu curso e iniciar sua vida profissional, terá que, nos primeiros anos, ressarcir aquilo que nele foi investido.
Onde está o problema?
Em não poucos casos, os diagnósticos não foram tão acurados e as assembleias e consultas públicas não conseguiram detectar a demanda real. Já em outros ambientes, foram os gestores universitários que, por interesses pessoais ou políticos, definiram qual seria a grade de curso a ser ofertada nos campi de suas universidades, sem considerar a demanda real por parte da região. É verdade que a presença de uma estrutura universitária, seja a Reitoria ou um campus, é motivo de orgulho para qualquer localidade. Entretanto, é importante que se considerem duas pétreas a serem atendidas. A primeira é que a escola de ensino superior seja uma academia que vise preparar técnicos, profissionais qualificados, líderes, cidadãos sãos, mas, por mais altruísticos que sejam esses atributos, sem que ela esteja inserida no desenvolvimento regional, participando ativamente da economia, das manifestações artísticas e culturais, ela não consegue atender o segundo quesito, que é o de ser um dínamo a impulsionar o deslocamento da sociedade em que está para níveis mais elevados.
Em alguns momentos, algum ou os dois critérios postos acima deixam de ser observados, resultando em cursos com uma procura mínima, com taxas de evasão elevadas e, consequentemente, o vexame de se contar com poucos concluintes no tempo destinado a cada curso.
Um segundo tema a ser levado ao destaque diz respeito à remuneração dos egressos do ensino superior. Quer seja pelo empregador público, quanto privado. Não é comum se deparar com editais de prefeituras municipais em seus concursos para técnicos de nível superior, inclusive engenheiros, oferecendo salários pífios, de dois ou menos salários-mínimos. Sendo assim, qual o argumento que esta administração exibe que justifique manter uma escola de nível superior em seu município? O que se vê é um escárnio contra a qualificação de suas filhas e filhos e um total descaso para com o conhecimento. Este mesmo padrão comportamental se aplica a diversas empresas da iniciativa privada, o que frustra o jovem, fazendo-o afastar-se das faculdades e universidades, já que nota que o esforço não valerá a pena. Para aqueles que concluem seus cursos, o que resta é uma busca por oportunidades em regiões que melhor remunerem ou procurarem seguir no sistema em um curso de pós-graduação até que encontre melhor oportunidade.
Como trazer de volta o sonho?
Não há uma fórmula mágica, mas com certeza alguns indicativos que atentem para a atração e valorização do ensino universitário são claros. O primeiro diz respeito ao papel da sociedade em valorizar o mais importante patrimônio com que contam, que são suas escolas de nível superior. Uma cidade que não se orgulha de sediar uma universidade, centro universitário ou faculdade pública ou privada, demonstrando a apatia pelo que representa a ciência e o conhecimento, está destinada à sombra permanente. Jamais será um ambiente de luz e progresso.
O ambiente empresarial também faz a sua parte, participando do cotidiano das escolas, ofertando oportunidades de estágio e remunerando devidamente seus profissionais. As escolas, na maioria dos casos, precisam passar por um processo de mea culpa, avaliar a entrega, a dinâmica de seus cursos e entender o que dela espera a região. Por último, a juventude, em tempos da supervalorização das redes sociais, que também são muito úteis, considere que não há substituto ao esforço e aos estudos. Aproveite a oportunidade construída para ela, valorize o crescimento intelectual e humano, afaste-se da mesmice e do falso sucesso e reconheça que todos necessitam progredir, com destaque os jovens provenientes dos estamentos mais humildes. Elevar o padrão civilizacional, cultural e econômico de uma região é dever de todos.
1. Professor titular da UFRPE-UAST, em Serra Talhada, PE