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Pernambuco, 11 de outubro de 2025

Agronegócios

Divulgação científica para a juventude do semiárido

Ciência é vida

Postado em 02/10/2025 10:01

Colunista

 

 

A atividade científica é mergulhar no desconhecido. A verdade é que o conhecimento é o estágio inalcançável da sabedoria, uma vez que, por mais que se estude, mais se tem a aprender. Desta feita, é importante que as escolas de nível superior procurem incutir em seus alunos a chama da busca, da leitura e, consequentemente, do amor pela ciência. Valorizar a história da ciência internacional e local é um dever de todos. A sociedade que amadurece conhecendo seus cientistas, professores, filósofos é uma sociedade sã.

Falando nisto, um dos indicadores mais interessantes para se acompanhar quão um município ou estado valoriza seus artistas, poetas, escritores, empresários, estudiosos formais ou informais é ver o nome que se atribui às ruas, avenidas, praças, hospitais, escolas. Em boa parte dos casos, a denominação se destina a quem nunca ou quase não contribuiu com o engrandecimento da cultura, da saúde, do bem-estar público. Mais chocante é quando se depara com substituições de nomes que homenageiam personagens, datas históricas, indicações geográficas, como aurora, futuro, liberdade, do sol, primavera, independência, por nomes de parentes dos gestores atuais, contando com a anuência das assembleias legislativas, câmaras de vereadores e de uma sociedade entorpecida que não considera a história como algo edificante e sim como um amontoado de informações passadas que não servem para nada.

Aqui se propõe reavaliar este padrão de comportamento, lembrando de quão importante é a valorização das ciências e dos cientistas. Provavelmente são poucos os jovens que foram expostos à grandeza de um Oswaldo Cruz, aquele que enfrentou críticas e abusos para consolidar a vacinação, há cem anos, como uma prática universal de enfrentamento às pandemias; um Santos Dumont com seu desejo inquebrantável de planar em seu 14 Bis. Uma Johanns Dobereiner que engrandeceu a microbiologia dos solos, identificando bactérias que, à temperatura e pressão ambiente, capturam o nitrogênio atmosférico, tornando-o assimilável pelas plantas; um Josué de Castro, médico e humanista que abriu os olhos do mundo para uma chaga que a humanidade não poderia continuar carregando, a fome; ou aquele casal de cientistas turcos, radicados na Alemanha, que poucos meses após a explosão da Covid-19, por meio de seus estudos sobre o RNA recombinante, contribuíram para o desenvolvimento da primeira vacina contra a pandemia que se alastrou por todos os continentes.

Em busca de novos cientistas

Fortuitamente me vejo em um projeto de busca e cultivo de novos talentos. Há poucos meses, o jovem colega pesquisador Jabson Herber, do iCEIS – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Complexo Econômico Industrial da Saúde, da UFPE, telefonou-me informando que havia chegado a mim pelo professor Jackson Guedes, da UNIVAS, informando que o Prof. José Lamartine Sobrinho, um dos líderes do instituto, estava construindo uma proposta de divulgação científica sobre alimentação, nutrição, bem-estar e saúde, a ser apresentada à FACEPEFundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco, em que procurava trabalhar com estudantes do nível médio, visando divulgar a ciência e atrair novos talentos para a área de saúde no escopo do que é o SUS – Sistema Único da Saúde, e que esta iniciativa procurava geograficamente abranger todo o estado, Recife e região metropolitana, o Sertão do Pajeú e o Sertão do São Francisco.

Topei de imediato. O fato de se contar com um time tão dedicado já seria o suficiente para fazer qualquer um saltar para este vagão, participar de um momento integrador entre três universidades do estado de Pernambuco, a UFPE, a UNIVASF e a UFRPE. Outro ponto relevante: poder aproximar a universidade das escolas públicas de ensino médio e colaborar com os professores na formação dos jovens que as frequentam, algo nobre. Neste meio termo, temos contado com a participação determinante da pesquisadora Renata Ramos, uma especialista em ciência e design e, para o projeto, uma espécie de gestora adjunta do Prof. Lamartine.

O projeto foi aprovado e a equipe está envolvida na identificação de parceiros na rede pública. Aqui em Serra Talhada, um casal de amigos sugeriu-me entrar em contato com a direção da Escola de Referência Isnério Ignácio. O primeiro contato com a Profa. Lúcia Helena Magalhães, há uma semana, quando fui acompanhado de duas jovens alunas da UFRPE-UAST candidatas às bolsas de iniciação científica, foi esclarecedor e salutar. Primeiro por encontrar alguém que ama o que faz, segundo por crer que a educação é a chave da libertação para as jovens e os jovens que frequentam uma escola que está ao lado do shopping center, mas que são moradores dos bairros Borborema, Alto do Bom Jesus e Vila Bela.

Maior ainda foi a surpresa ao ser informado sobre uma ação conjunta estimulada pelo governo estadual, que é um curso de tecnólogo em nutrição e dietética, que corre paralelo ao ensino médio em uma ação conjunta ao SENAC – Serra Talhada, que ofertou sua capacidade técnica e infraestrutura para que o curso se tornasse possível.

Hoje, participei de uma reunião online entre a Diretora Lúcia Helena e a Renata, visando os ajustes finais e de forma que as partes se conhecessem melhor. Não poderia ter ocorrido conversa melhor. Sei que os professores Lamartine e Jackson farão o melhor na busca de parcerias. Aqui em Serra Talhada, não há como imaginar não ser bem-sucedida uma iniciativa que conta com instituições locais como a EREM Irnero Ignácio, o SENAC e parceiros como o Dr. Clóvis Carvalho, diretor do Hospital São Vicente, que, ao tomar conhecimento do projeto e do que está ocorrendo na escola, se colocou à disposição para colaborar no que for possível. Sem contar, como citado antes, com três universidades federais ao longo desse retângulo irregular que é o estado de Pernambuco. Vale ainda um registro da alegria contida na mensagem do Professor Ruben Guedes, do Departamento de Nutrição da UFPE, um dos mais importantes centros de ensino e pesquisa do país, ao saber deste curso associado ao ensino médio ofertado nesta escola de Serra Talhada. Por fim, espero que logo mais estejamos interagindo e dialogando com futuros agrônomos, médicos, nutricionistas, enfermeiros, biomédicos, engenheiros, professores, fisioterapeutas que viram no conhecimento e na ciência algo que trouxe esperança e vontade de vencer e transformar o mundo ao redor.

1Professor titular da UFRPE-UAST, em Serra Talhada, PE