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Pernambuco, 09 de novembro de 2025

Agronegócios

A plataforma SERVAgro e o planejamento territorial

Previsão climática, um grande desafio.

Postado em 30/10/2025 15:58

Colunista

No momento, o que se fala é da possível ocorrência de chuvas no semiárido do Nordeste no mês de novembro de 2025, de acordo com previsões de alguns institutos de meteorologia, tendo como base a presença do fenômeno La Niña. Vale torcer para que os prognósticos sejam confirmados, sabendo que os fenômenos em escala macro, como El Niño e La Niña, nem sempre se traduzem em fatos, como foi o caso de previsões não confirmadas de seca entre 2024 e 2025 para o Semiárido brasileiro.

Investir na manutenção da rede de estações automáticas de coleta de dados meteorológicos, no sistema de captura, análise e monitoramento dos dados é uma condição essencial para que se possa contar com estimativas confiáveis e precisas e que dialoguem com o produtor rural, o comércio, o turismo, a saúde e o meio ambiente. Neste contexto, ocorreu no último dia 28 de outubro de 2025 o lançamento da plataforma SERVAgro – Serviço de Gestão do Uso da Água e Redução do Risco Climático no Setor Agropecuário, em Serra Talhada.

O SERVAgro soma-se a outros instrumentos desenvolvidos nas últimas décadas em todo o mundo. Entretanto, além do mérito de ser algo completamente sob o domínio de instituições de Pernambuco, a exemplo da UFRPE, da APAC, contando com a participação efetiva de professores e técnicos do IF Sertão e da UNIFIS, tem como base, além de dezenas de anos de dados meteorológicos, uma centena de experimentos conduzidos no Campus da UFRPE-UAST com culturas adaptadas ao semiárido e o esforço de uma equipe técnica multidisciplinar envolvendo dezenas de estudantes, professores, pesquisadores e analistas. Este componente local faz da plataforma um instrumento de consulta, ensino e gestão imprescindível para as tomadas de decisão sobre plantio, irrigação, fertilização dos cultivos, manejo dos rebanhos, descarte, estações de reprodução, escolha de cultivares e raças mais adaptadas, entre outros benefícios.

O SERVAgro é constituído por dezesseis serviços organizados em modos interativos e integrados que estão sendo disponibilizados aos técnicos, professores, pesquisadores, extensionistas, estudantes, empresários, agentes de fomento, formuladores de políticas e um sistema moderno de ensino em várias disciplinas do ensino fundamental ao superior.

A quem se dirige o SERVAgro?

Após a apresentação do professor Thieres George da UFRPE-UAST e Pró-Reitor de Pesquisa da UFRPE, contando com a participação da Reitora da UFRPE, professora Maria José de Sena; Dra. Suzana Gico Montenegro; da professora da UFPE e presidente da Agência Pernambucana de Água e Clima e professores das instituições parceiras e parte do corpo diretivo da universidade, fica a questão de como se dará a divulgação e qual o público-alvo.

Em primeiro lugar, este instrumento deve estar disponível de modo visível nas páginas da universidade e suas unidades acadêmicas, da APAC e, em uma negociação posterior, na homepage do IPA, do BNB, da FAEPE, FETAPE e sindicatos associados. No caso específico do ensino, ela deve ser objeto da agenda de disciplinas como introdução à agronomia, zootecnia, engenharia de pesca, engenharia florestal, engenharia agrícola e cursos conexos. O estudante deve aprender a consultar e fazer uso em seus projetos, laudos, relatórios e apresentações, desde o início do curso.

No caso do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, que conta com doze estações experimentais, 182 escritórios de extensão rural e dois campos de produção, não há como não transformar a plataforma SERVAgro, e é o órgão responsável por acompanhar e orientar os pequenos e médios produtores, em um instrumento obrigatório de trabalho. O fato é que Pernambuco e os estados da região Nordeste ganharam um sistema integrado de gestão que faltava.

Há um desafio à frente, que é o de integrar o SERVAgro a dois outros instrumentos relevantes de apoio à agropecuária regional. O primeiro é o trabalho que vem sendo realizado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas, capaz de gerar mapas diários com a cobertura vegetal de todos os municípios da região. O segundo é o ZARC – Zoneamento Agrícola de Risco Climático, uma plataforma do Ministério de Agricultura e Pecuária, criada e gerenciada pela EMBRAPA, tendo na UPE de Recife, da Embrapa Solos, uma das principais bases de suporte e desenvolvimento.

O zoneamento de risco climático é a coluna mestre da disponibilidade de crédito de custeio para qualquer cultura em todo o território nacional. Não havendo dúvida de que a cooperação entre as instituições envolvidas tornará o instrumento ainda mais robusto e com uma precisão de análises de riscos mais acurada.

Valorização do planejamento territorial.

Nos últimos dias, outras iniciativas chamaram a atenção na região Semiárida. Destaca-se um trabalho de territorialização do setor que vem sendo promovido pela equipe do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, superintendência de Pernambuco, em apoio às cadeias produtivas relevantes em regiões com características comuns. A reunião realizada no distrito de Laje do Carrapicho, em Alagoinha, Agreste do estado, tendo como foco a caprinocultura de leite, contou com mais de cem participantes de dez municípios, bem como equipes técnicas das secretarias municipais de agricultura, do BNB, do CEDAP, da Cáritas, da UFRPE, do IPA, do SINDLEITE, da Prefeitura Municipal de Alagoinha, da COOBLAT, de sindicatos de trabalhadores, movimentos sociais e de muitas associações. Reuniões similares se repetiram em Serra Talhada e São José do Belmonte.

No caso do café, um grupo de produtores, técnicos, empresários, a UFRPE, a UPE, a UFAPE e a Secretaria de Agricultura de Taquaritinga criaram a Rede Café Pernambuco, que conta com dezenas de profissionais envolvidos no avanço do conhecimento, na divulgação e na valorização do café produzido em Pernambuco em regiões como Triunfo, Saloá e Garanhuns. No próximo dia 31 de outubro, sexta-feira, será realizado, em Taquaritinga do Norte, o 1º Fórum sobre Pesquisa Aplicada à Cadeia Produtiva do Café, contando com dezenas de pesquisadores e professores das instituições pernambucanas.

O que se vê é um Pernambuco em movimento paralelo com uma agenda que valoriza a tecnologia e sua inserção nos territórios produtivos. Um grande avanço em termos de percepção e abordagem, tendo como modelo o que tem sido a base do desenvolvimento local na França, Espanha e Itália há décadas.

1. Professor titular da UFRPE-UAST, em Serra Talhada, PE