

Uma Atitude Mental Sobre como Enxergar a Vida | Por Daniel Lima
“Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu conheço – disse o Chapeleiro –, não falava em gastá-lo como se ele fosse uma coisa. Ele é alguém.”
(Alice no País das Maravilhas)
Postado em 30/07/2022 13:18
Daniel Lima – Teólogo, Filósofo e Psicanalista/GBPSF/ISFN. @daniellima.pe
Um presente chamado hoje.
Ah, o tempo! Comecei essa série de textos com uma breve reflexão sobre a nossa percepção do tempo, isso não de maneira filosófica, mas sim reflexiva. O que disse naquele texto em resumo é que a nossa relação com o tempo acaba sendo alterada conforme aquilo que nos ocupamos. Explico melhor! Quando estamos fazendo algo que gostamos temos a impressão de que o tempo está passando mais rápido, ou quando estamos fazendo algo que não gostamos parece que o tempo passa devagar. Também quando nos ocupamos muito ou fazemos uso de redes sociais e jogos, temos uma sensação de que o dia passou muito rápido, porém o dia continua sendo marcado da mesma forma.
Os segundos não passaram mais rápidos ou mais lentos, mas sim, a nossa relação e percepção do tempo que acabou sendo modificada pela experiência daquele momento. O tempo é algo muito precioso que temos, mas muitas vezes não damos o devido valor e acabamos desperdiçando tempo com coisas que não são importantes para nós. Por isso, neste dia chamado hoje todos nós temos a chance de corrigir o que achamos que precisa ser corrigido e, melhorar o que pode ser melhorado. Afinal, como disse Dalai Lama: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
Um pouco do personagem
Bem, aqui estamos com mais um personagem deste mundo de Alice, o Chapeleiro Louco (Chapeleiro Maluco). No livro é indicado que ele teria ficado assim após brigar com o tempo; talvez seja por isso que celebra seus “desaniversários”. Ele é residente do País das Maravilhas e o melhor amigo da Lebre Maluca, os dois geralmente se envolvem em festas de chá; a maioria dos quais são para comemorar seus “desaniversários”. O personagem representa uma espécie de sátira das normas de etiqueta britânicas e suas convenções sociais. Ele até subverte o “chá das cinco”, uma das tradições mais célebres e antigas do país, transformando-a numa celebração sem sentido. Aquele que deveria ser um evento formal e repleto de regras, próprio das classes mais altas, se transforma numa enorme algazarra. O Chapeleiro é um homem de comportamento excêntrico, amigável e rude com Alice, podendo ser encarado como um mau anfitrião.
Amor Fati via de aceitação e superação
Acho interessante o fato de o Chapeleiro ter ficado maluco, louco, depois de brigar com o tempo, pois de fato, parece que quando brigamos com o tempo para ele desacelerar ou não deixar em nosso corpo as marcas da idade, nós ficamos como que “loucos” e vamos em busca do corpo ideal, do rosto ideal, etc. Isso me faz lembrar de uma expressão latina, Amor Fati, que significa “amor ao destino”. No estoicismo e na filosofia de Nietzsche, trata-se de uma aceitação integral da vida e do destino humano mesmo em seus aspectos mais cruéis e dolorosos, isso mesmo, aceitar até o que é aparentemente ruim, amargo, difícil de lidar.
Entretanto, não se engane, aceitar e até amar o destino, não tem nada a ver com manter-se parado em relação à vida. É preciso agir, de acordo sempre com suas virtudes e seguir o seu caminho com menos reclamações e amargura. Assim sendo, Amor Fati é algo poderoso, pois nos faz treinar a aceitação e a superação. A quem diga que para tal aceitação só um espírito superior é capaz, mas parece que é um pouco disso que vemos no Chapeleiro, alguém que celebra com vida na Vida e convida outros a celebrarem os “desaniversários”, ou seja, a viver cada dia como se fosse o último e não apenas comemorar os aniversários ano após ano, mas celebrar cada dia que não é seu aniversário (o “desaniversário”) desfrutando de cada momento da vida. Viver envolve dor, adversidades, fracassos e um dia morte, então a melhor saída é amá-la exatamente como ela é, o amar o destino é uma atitude mental sobre como enxergar a vida.
O neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, um sobrevivente do campo de concentração nazista em Auschwitz, aplicava essa filosofia do Amor Fati de uma forma bastante simples: “Você não pode controlar o que acontece com você na vida, mas sempre pode controlar o que sentirá e fará a respeito do que acontece com você.” Portanto, exercitar o Amor Fati significa aceitar de peito aberto todos os acontecimentos da vida, tanto aqueles que trazem felicidade, prazer e boas memórias, como aqueles que trazem tristeza, sofrimento e angústia. Finalizo este texto com uma frase do Imperador Romano Marco Aurélio que diz: “Aceite as coisas que o destino lhe traz, e ame as pessoas que o destino te aproxima, mas faça isso de todo o seu coração”.