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Pernambuco, 12 de novembro de 2025

Cultura

As empreendedoras do sabor sertanejo

A culinária sertaneja é cheia de sabores exóticos e chegam a surpreender a todos que degustam as iguarias, não somente pelos ingredientes diversificados, mas também pela criatividade típica dos profissionais que lidam com a gastronomia do Sertão. Por ter a maior parte de sua área na Caatinga, no Sertão, é comum a utilização de Plantas […]

Postado em 13/03/2022 09:00

Jornalista ,

A culinária sertaneja é cheia de sabores exóticos e chegam a surpreender a todos que degustam as iguarias, não somente pelos ingredientes diversificados, mas também pela criatividade típica dos profissionais que lidam com a gastronomia do Sertão.

Por ter a maior parte de sua área na Caatinga, no Sertão, é comum a utilização de Plantas Alimentícias Não Convencionais, chamadas de PANCs, cultivadas ou colhidas do próprio bioma para fazer iguarias que deixam turistas com água na boca.

É o caso dos variados cactus encontrados com o Mandacaru, facheiro, a coroa de frade espécies que possuem sabores diferentes e até frutos, como o Mandacaru, que é bastante usado por chefes locais da região tanto para doces, ou para misturar ao peixe, à carne do bode, do carneiro, na carne do sol e, até embelezar os pratos.

Mas, tem mais. E quem vai nos contar são as chefes Jucilene Melo, catingueira, nasceu no meio do bioma, no povoado de Campo Santo, em Petrolina, e há 16 anos tem o conhecido restaurante Flor de Mandacaru.

Jucilene Melo, do Flor de Mandacaru

E nossa outra convidada é a chefe Sandrine Scherer, de Belém do Pará, mas adotou Petrolina, como seu lar, há mais de 20 anos. Sandrine durante a pandemia se ressignificou: saiu da sociedade de um restaurante, montou uma curadoria de queijos artesanais com mais quatro amigas com a marca Queijos do Brasil. Além disso, mantém um projeto social na Casa das Arretadas, em Petrolina.

Sandrine Scherer, chefe e empreendedora da Queijos do Brasil

Jucilene Melo

Sua inspiração pela cozinha e sabores sertanejos herdou de seus avós paternos e maternos. Criada no meio da Caatinga, Juci Melo, como é conhecida, aprendeu desde cedo a preservar o que a natureza árida, porém rica do Sertão propiciava à mesa de sua casa.

Desses sabores sua memória afetiva é traduzida há 16 anos no Flor de Mandacaru, típico e reconhecido restaurante sertanejo. Mandioca, rapadura, cana, bode, baião de dois, umbu, mandacaru, o peixe Cari, conhecido como a lagosta do Sertão, tudo nas mãos de Juci se transforma em novos sabores e pratos, impregnados da cultura raiz da Caatinga.

A curiosidade como aliada

Mas nem tudo foram flores de mandacaru para a renomada chef… Ela aprendeu a cozinhar, experimentando, sendo curiosa, buscando referências e ainda tendo criar três filhos do primeiro casamento e outros dois do segundo matrimônio. Começou a fazer salgados e como boa vendedora passou também a fazer marmitas e sempre de olho nas oportunidades, assim “espiava” o espaço onde hoje está o seu restaurante.

“Sempre passava pelo espaço, onde hoje está o restaurante, e ficava olhando…. um lugar que já tinha sido sede de uma Igreja, de uma corretora. Meu instinto dizia: aqui vai ser meu restaurante. Então, conversei com o proprietário, que é até hoje meu corretor, que topou em me ceder o ponto”, lembrou.

Diógenes, dono do ponto do restaurante Flor de Mandacaru, era cliente de marmita da Juci Melo. O acerto, à época, era por três meses. Nesse período, ela fez reformas, desmontou a casa e inaugurava o estabelecimento com apenas seis mesas.

“Contei com muita ajuda. Meu irmão que é artista, meu ex-marido. Meus meninos eram pequenos, então tive que estudar e aprender as coisas. E, naquele tempo, não havia internet. Tudo era por meio dos livros. Pesquisava produtos da própria região, comprava e compro até hoje de produtores locais. Daí vieram minhas raízes de meus avós”, revelou Juci.

Com essa memória afetiva aguçada, a sertaneja imprimiu sua versatilidade em suas criações e investiu em jantares temáticos para turistas interessados em conhecer sobre a gastronomia através das Pancs, por exemplo, doces usando cactus como a coroa de frade, caldo de facheiro, ouricuri, a palma, o xique-xique, a algoroba, o mandacaru.

Além de disso, o restaurante masntém um menu degustativo com pratos à base de carne de bode, carneiro, baião de dois, sarapatel, buchadinha, galinha com xerém, peixe cari, (conhecido como a lagosta do Sertão, pela sua textura adocicada e de cor branca), além dos petiscos exóticos e diferentes tipos de drinques como caipirinha de umbu, de acerola, frutos da própria região e o famoso doce de cuca de umbuzeiro.

Fui atrás dessas memórias e aí uma vez eu botei o peixe Cari com o mandacaru e aí isso começou a dar certo. Mesmo sem crédito, dava um jeito, comprava fiado, e o restaurante cresceu no boca a boca”, disse. 

A reviravolta na pandemia

Juci como uma boa sertaneja não desistiu de seus sonhos, mesmo durante a pandemia. Teve que fechar as portas, para fazer cumprir o decreto estadual e municipal, teve uma crise de Bournot, o que a impedia de ficar à frente de qualquer coisa ligada ao restaurante. Era hora de mudar a chave. Foi quando se afastou e foi se curar empreendendo um novo negócio: o Rancho Flor de Mandacaru.

“Eu fiz ele (o rancho) no processo da doença.Eu não estava cem por cento curada quando comecei, mas fiz assim pensando que quando retornasse iria em busca de grana para transformar ali numa pousada, mesmo que pequena”. Atualmente, quem queira conhecer o Rancho está disponível no aplaicativo Airbnb, que continua a ajudar muito o pequeno negócio.

Investimento no delivery

E o que fazer para o restaurante sobreviver? Foi quando seu filho Rafael, formado em engenharia química, teve a ideia de investir no delivery.

Foi difícil a adaptação, porque para mim, não para meu filho, esse tipo de negócio de fazer entrega de comida em casa era desconhecido. Eu olhava desconfiada e fui estudar a operação. Depois de muito aperreio, conseguimos engatar a operação”, revelou. “Seguimos em frente, contraímos dívidas para o Flor do Mandacaru vem se mantendo, graças a Deus”.

 

Safari Brasil

A Juci é a anfitriã no Vale do São Francisco do Safaris Brasil, grupo de pessoas ligadas à gastronomia ou amantes dos sabores de todo parte do mundo e do Brasil que querem experimentar coisas novas. “Estamos sempre buscando gente para mostrar nossas riquezas, pois esse nosso Sertão é rico”.

Sandrine Scherer

Apesar de ter nascido no Norte do país, Sandrine adotou o sertão como seu lar

Assim como a pernambucana Juci Melo , a paraense Sandrine Soares Scherer, 46 anos, teve suas raízes da arte culinária advindas do seio familiar. Pernambucana de coração mora em Petrolina há mais de 20 anos, onde constitui, de fato, sua vocação para a gastronomia. Como ela mesmo declara “ a gastronomia na minha vida veio da minha família, ao lado dos meus pais e avós que gostavam de agregar, de comemorar e celebrar os momentos com uma boa e saborosa comida’.

Além de possuir uma formação em Gastronomia, Sabrine também é formada em Administração de Empresas. Daí, veio seu instinto em empreender, que falou mais alto quando chegou a Petrolina e montou com outros sócios, seu primeiro negócio. Ficou cinco anos chefiando e gerenciando a parte da cozinha, do pessoal. Mas, outros desafios a chamaram e ela começou junto com uma amiga a fazer pequenos jantares temáticos e harmonizados com produtos da própria região como os vinhos do Vale do São Francisco. Eram encontros em petit comitè. Fundava aí a Casa 12.

“Foi uma experiência superinteressante porque era uma coisa bem intimista, mas que a gente amava fazer porque conseguíamos estar presente em todos os processos e era muito gratificante ter o reconhecimento, o elogio, do pessoal gostar. Pra quem cozinha, qualquer cozinheira eu acho que não tem coisa melhor do que você fazer uma comida e as pessoas gostarem. Isso pra mim é o melhor reconhecimento”, disse a chefe.

Queijos do Brasil: o sabor sertanejo e nordestino

Queijos do Brasil é uma marca licenciada por Sandrine e mais quatro amigas nordestinas

Já intuitivamente com espírito sertanejo aguçado, não parou de empreender, de buscar novas oportunidades. E entrou no ramo de queijos artesanais, onde faz curadoria, buscando fornecedores ao redor de todo o Brasil, produtores pequenos e artesanais, mas de boa qualidade, todos com grande potencial de crescimento. A marca Queijos do Brasil é formada por cinco mulheres espalhadas nos estados da Bahia, Pernambuco (Petrolina), Ceará.

“Na curadoria de queijos nós temos os queijos padrões que são aqueles que vendem mais, como mussarela, parmesão, provolone entre outros.Estamos sempre em busca de novos parceiros, de outros estados, outras cidades. No Brasil temos queijos de excelente qualidade, com receitas internacionais. Nós acreditamos nos nossos produtores que prezam muito pela qualidade desde o seu início do processo. Se não tem a produção das vacas mas sabem escolher aquele leite de uma boa procedência e ter um produto final pronto”.

Serviço:

Chefe Jucilene Melo > Restaurante Flor de Mandacaru – Rua das Ameixas, 155, COHAB, São Francisco, Petrolina

Telefone: (87) 9930-3141

Instagram: @restauranteflordemandacaru

Chefe Sandrine Scherer

Telefone (87) 99633-8660

Instagram: @sandrinesoares