A importância da singularidade e do afeto na psicanálise
“O que cura é o afeto: não há terapia sem simpatia.”
(Sandor Ferenczi)
Postado em 02/07/2024 2024 18:15 , Coluna Psicanálise no Cotidiano. Atualizado em 02/07/2024 18:15
Sándor Ferenczi, um dos pioneiros da psicanálise, enfatizava a importância do afeto na análise. Ele acreditava que a cura verdadeira não poderia ocorrer sem um vínculo afetivo genuíno entre psicanalista e paciente. Esta relação de simpatia, como ele chamava, é o alicerce sobre o qual se constrói um espaço seguro para a exploração das profundezas do inconsciente. É através deste vínculo que o paciente se sente compreendido e acolhido, condições essenciais para o trabalho analítico.
Ferenczi postulava que o afeto tem um papel central na transformação psicoterapeutica. Ele argumentava que o analista deve ser capaz de oferecer uma escuta empática, que vá além da mera interpretação técnica dos sintomas. A simpatia, ou a capacidade de sentir com o outro, permite uma conexão humana que é vital para o processo de cura. Sem essa conexão, a análise corre o risco de se tornar uma prática fria e desumanizada, onde a história do sintoma prevalece sobre a história do indivíduo.
O conceito de cura através do afeto também se reflete na obra de outros teóricos psicanalíticos, como Donald Winnicott e Melanie Klein. Winnicott, por exemplo, destacava a importância do ambiente facilitador, onde o psicanalista, ao oferecer um espaço acolhedor e seguro, permite que o paciente experimente e integre suas partes mais vulneráveis. Klein, por sua vez, explorou como a transferência positiva pode ser um mecanismo de cura, onde o paciente projeta sentimentos de amor e gratidão no analista, recriando vínculos afetivos saudáveis.
Na prática clínica, a escuta da singularidade implica em um compromisso constante com a história individual do paciente. Cada sessão é uma oportunidade de explorar as narrativas pessoais que moldam suas experiências e comportamentos. Este enfoque permite uma compreensão mais profunda das motivações inconscientes e das dinâmicas internas, que muitas vezes se escondem atrás dos sintomas manifestos. O psicanalista, ao valorizar a história pessoal, cria um espaço onde o paciente pode se sentir verdadeiramente ouvido e compreendido.
Portanto, a escuta da singularidade e a ênfase no afeto como elemento curativo são pilares que sustentam uma prática psicanalítica humanizada e eficaz. Ferenczi nos lembra que a psicoterapia não é apenas uma técnica, mas uma relação humana onde a simpatia e a empatia desempenham papéis cruciais. Ao priorizar a história do indivíduo sobre a história do sintoma, os psicanalistas podem oferecer uma abordagem terapêutica que realmente respeita e valoriza a experiência humana em sua totalidade.
Daniel Lima, teólogo, filósofo e psicanalista.
Psicanalista membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi – GBPSF.
Pós-graduado em ciências humanas: sociologia, história e filosofia.
Pós-graduado em psicanálise e teoria analítica.
www.psicanalisedaniellima.blogspot.com
daniellimagoncalves.pe@gmail.com
@daniellima.pe