A semana de Agronomia na UFRPE-UAST

Durante esta semana o curso de Agronomia da UFRPE-UAST está exercitando a 14a Semana de Agronomia. Um evento iniciado no terceiro ano da existência da escola. Tive a oportunidade de ter um diálogo com os estudantes e professores presentes, tratando do desenvolvimento sustentável da agricultura no Semiárido.

Em primeiro lugar, não há como se falar em agricultura sem chamar a atenção para a saga que representa o desenvolvimento do Brasil neste segmento nos últimos cinquenta anos. O país deixou de ser um gigante que não conseguiu alimentar seus filhos para se tornar um dos mais importantes atores no mercado internacional de matérias primas e produtos da agropecuária. De vez em quando surgem narrativas sobre uma conspiração internacional contra a agricultura brasileira e que o país tem se comportado da melhor forma possível em termos de desenvolvimento sustentável.

Esta versão necessita de reparos. O mundo inteiro reconhece os avanços ocorridos e a importância estratégica do país para a paz mundial. Alguns países são mais conhecidos como exportadores de tecnologias, especialmente armas que, eufemisticamente se denomina indústria de defesa, a verdade é que não há unanimidade em qualquer que seja o processo mas, de modo geral, esta grita não procede e normalmente parte de quem cria situações de embaraço e ameaças para vender soluções. Isto é, aproveitadores existem fora  e dentro de nossas fronteiras.

A segunda parte da conversa tratou de uma agricultura sustentável para o Semiárido. Chegou o momento de reconstruir o discurso vigente e passar a ver o Agreste e o Sertão de Pernambuco como ambientes de oportunidades e crescimento. Independente do clima ou dos problemas que possam existir na geopolítica mundial, o Semiárido conta com toda uma infraestrutura física e de conhecimento através da qual se permite visualizar uma mudança mais acelerada em seu padrão de desenvolvimento nas próximas décadas.

O efeito positivo dos investimentos em educação

O Nordeste começa a colher os frutos do que foi a expansão do ensino médio e superior nas cidades do interior, agora é saber o que fazer do conhecimento em cada jovem que conclui um curso em qualquer que seja a área.

Serra Talhada  sempre foi conhecida como uma das mais importantes cidades do estado e a educação superior tem marcos bem distintos. O primeiro foi a fundação da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada. Durante anos o que se via eram dezenas de veículos de cidades em um raio de cinquenta quilômetros ou um pouco mais deslocando os estudantes ao final do dia.

Mais recentemente, o ponto de inflexão da curva se deu com a implantação do PROUNI, um programa de expansão universitária em que a partir de 2006 a UFRPE passou a contar com o Campus de Serra Talhada, instalado em área cedida pelo IPA na Fazenda Saco. A vinda de uma escola federal desencadeou a atração de várias outras instituições públicas e privadas, destacando-se o IFES Sertão, a UPE, a FIS constituindo um conjunto de treze instituições de ensino superior. Neste momento aguarda-se em breve a inauguração da Faculdade Senac.

Educação, uma oportunidade individual e coletiva

Esta tendência propicia a presença de pessoas qualificadas para atender as diversas atividades econômicas e é o ambiente essencial ao empreendedorismo. Isto é, quanto mais pessoas qualificadas estão disponíveis maior a chance de se contar com startups em todos os segmentos econômicos.

Um programa de apoio aos novos negócios é essencial para a região, sabendo que não se deve e nem pode repassar esta responsabilidade apenas aos governantes. Não há dúvidas que uma readequação de prioridades levaria a investimentos nos jovens egressos das escolas, entretanto a sociedade local, os setores de serviços e comércio devem estar envolvidos e cientes de que o surgimento de novos.

Recursos humanos mais qualificados elevam o padrão de negócios, incentivam a criatividade e a ousadia daqueles que estão instalados e atraem novos investimentos. O papel da remuneração digna e a qualificação permanente da força de trabalho faz a diferença. Comparar empresas que têm optado por este caminho e aquelas que tentam gerar lucros sacrificando o desenvolvimento de seus colaboradores é algo irreal. A diferença é gritante e, em pouco tempo, o resultado é visível.

Um empresariado dinâmico

O Sertão, de modo geral, tem testemunhado o surgimento de empreendimentos importantes não do ponto de vista econômico em si, ou da capacidade de emprego, mas de outros fatores que, normalmente, não parecem ser tão relevantes. O melhor exemplo desta tendência é a modernização dos postos de serviço que ao longo do tempo passaram das famosas bombas de gasolina para centros comerciais de apoio aos que trafegam. Além dos restaurantes, saltam aos olhos as instalações de sanitários limpos, amplos e bem cuidados que, por incrível que possa parecer, atraem mais clientes do que mesmo o preço de combustíveis ou da alimentação.

Desde a Rota da Seda, que fazia a conexão da Europa com a Ásia, as pousadas de qualidade eram referências. As cidades que ofereciam maior conforto se tornaram centros comerciais, culturais e religiosos diferenciados, a exemplo de Bukhara, Samarkand ou Isfahan. Atualmente, no Semiárido de Pernambuco, destacam-se Tacaimbó, Pesqueira, Arcoverde, Custódia, Serra Talhada, Salgueiro, Araripina e Petrolina. Não dá para nominar empreendimentos individuais, mas com certeza todos haverão de saber do que se trata.

Os entrepostos comerciais e shopping centers têm feito a diferença e se tornado ambientes de lazer, compras e bem-estar. Neste momento esses empreendimentos têm atraído milhares de pessoas que saem de casa para encontrarem um ambiente climatizado, seguro e tranquilo e em virtude disto se estimula o consumo. Parabéns aos empreendedores que passam a ser benfeitores e atores estratégicos para o desenvolvimento regional.

1Professor Titular da UFRPE-UAST