
Nenhum outro local do mundo usa tanta tecnologia no processo produtivo como o Vale do São Francisco
Os produtores do Vale dependem muito de problemas nas safras dos países concorrentes são reféns da taxa de cambio
Postado em 21/04/2021 2021 09:53 , Economia. Atualizado em 21/04/2021 10:15
Economista João Ricardo de Lima Prof. da Facape de Petrolina, escreve quinzenalmente sobre Economia & Negócios para o JS.
Os produtores dependem muito de problemas nas safras dos países concorrentes e reféns da taxa de cambio
Assim, mesmo com a qualidade das frutas e a disponibilidade anual, os produtores dependem muito de problemas nas safras dos países concorrentes (Peru, Chile, países africanos, Espanha, Itália, México, etc.) e são totalmente reféns da taxa de câmbio. A forte valorização do dólar frente ao Real, em 2020, trouxe competitividade para os produtores brasileiros e a possibilidade de grandes ganhos. É o efeito do curto prazo. O momento atual, porém, já com tanto tempo com a moeda local desvalorizada, já passa a incomodar devido o crescimento dos custos de produção. Muitos insumos têm seus preços dolarizados e quanto mais caro o dólar, mais caros os insumos e os custos de produção. E a transmissão de preços ocorre por completo, aumentou o dólar, as tabelas de preços de insumos são atualizadas. É importante ressaltar que este aumento do dólar impacta os custos de produção da economia brasileira como um todo, impacta os combustíveis e se têm novo efeito sobre os custos, refletindo em aumentos de preços e inflação. A preocupação com o aumento contínuo e generalizado dos preços fez, inclusive, o Banco Central aumentar a taxa básica de juros, em março, em 0,75 ponto percentual.
O Brasil adoece com a pandemia e empobrece com a economia
O problema é que aumento de taxas de juros é uma medida negativa quando se precisa de crescimento econômico, investimentos novos que gerem emprego e reduzam os índices recordes de desempregados no país. O Brasil adoece com a pandemia e empobrece com a economia, a cada dia, um pouco mais. Assim, se tem fortalecido a preocupação com os patamares atuais da taxa de câmbio no Brasil, denominada de flutuante sujo, ou seja, quando necessário a autoridade monetária intervém no mercado de câmbio, comprando ou vendendo a depender do que seja (desvalorizando ou valorizando a moeda nacional).
Cuidados com a armadilha cambial e consumo domestico
Acontece que se o processo atual se reverter e o Real valorizar frente ao dólar, ficará inviável para os exportadores do Vale do São Francisco enviar suas frutas para outros países. Isto já ocorreu na década passada quando o dólar caiu para menos de R$ 2,00 e deve preocupar novamente caso ele caia para menos de R$ 5,00. Assim, se tem uma armadilha cambial. No patamar atual eleva muitos os custos em geral, consequentemente, gera inflação em uma economia com muitos desempregados e perda de poder aquisitivo e diminuição do consumo doméstico, que é o principal mercado para as frutas do Vale do São Francisco. Se o dólar desvalorizar, dependendo do tamanho da desvalorização, inviabiliza as exportações. O ano de 2021 passa a ser, então, extremamente desafiador para a região.
Quem é João Ricardo Lima: Doutor em Economia Aplicada. Coordenador da Pesquisa sobre a evolução da Pandemia no Vale do São Francisco realizada pelo Colegiado de Economia da Faculdade de Petrolina (FACAPE).