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Pernambuco, 06 de dezembro de 2024

Bem Estar

A Psicanálise e o Processo Analítico em Poucas Palavras Por Daniel Lima

Dito de outra maneira, não é todo mundo que vai gostar de fazer psicanálise, porque nem todo mundo se identifica com o processo analítico.

Postado em 25/02/2022 2022 20:18 , Bem Estar. Atualizado em 25/02/2022 20:23

Colunista

Daniel Lima – Teólogo, Filósofo e Psicanalista/GBPSF/ISFN. @daniellima.pe

“A psicanálise não pode ser nada além de uma longa viagem. A destinação (como destino) importa menos que as paisagens percorridas”. (Radmila Zygouris)

A psicanálise é o único método para alívio do sofrimento mental e as angústias? Podemos pensar que sim, mas no fundo isso é um sintoma da psicanálise, porque ela não é o único método para o sujeito se deparar consigo mesmo, até porque a cura em psicanálise tem a ver com a possibilidade de admitir e não com a retirada do sintoma, porém existem outros meios que podem conduzir o sujeito a uma vida mais ou menos confortável dentro da sua condição.

A psicanálise poderia ser algo para todo mundo, mas não, ela não é para todo mundo, pelo simples fato de que muitas pessoas não conseguem suportar essa entrada em análise, esse processo é difícil e requer uma combinação de fatores para que se possa sustentar esse desejo minimamente. Dito de outra maneira, não é todo mundo que vai gostar de fazer psicanálise, porque nem todo mundo se identifica com o processo analítico.

Sendo assim, antes de ingressar em uma sessão psicanalítica, é preciso saber que as construções de tempo e de espaço são diferentes, os objetivos não são imediatos e palpáveis. Então, quando se procura a psicanálise é preciso estar disposto a pensar verdadeiramente sobre sua vida e seu lugar no mundo, pois se entrará em contato com pensamentos e desejos que, por vezes, a consciência não consegue tolerar. 

Portanto, se você está disposto a falar sobre si, a refletir sobre sua existência, colocar em questão suas escolhas, impasses, inibições, ser escutado e se escutar ao invés de ficar obedecendo submissamente a ordens externas, fazer psicanálise pode lhe ajudar nestes processos. Fazer psicanálise não é como conversar com qualquer pessoa (parentes e amigos)!

Fazer psicanálise é conversar de tal maneira que em falando, a pessoa consegue se escutar e, em mostrando-se para o outro, a pessoa consegue se enxergar. Muitas pessoas não suportam a experiência psicanalítica, mas existem outras formas de cuidado na saúde mental. Psicanálise, é para você se escutar e consequentemente autoconhecimento, mas este não é o fim último.

A proposta da psicanálise é ajudar a pessoa a se entender, não no sentido de conhecer-se por completo, mas sim, discernir as motivações inconscientes dos comportamentos, discernir as fantasias que estão por trás das relações, sintomas, mal-estar, etc. Mas discernir para quê? por quê? discernir para tomar as atitudes, escolher os seus próprios caminhos e assim fazer os percursos que deseja.

Até porque o sujeito já está realizando o seu desejo inconsciente quando procura o/a psicanalista, mas realizando de maneira que a pessoa não reconhece e sofre com isso porque não sabe para qual caminho está indo. Então, é comum esperar que alguém venha e diga o caminho, ou o que se deve fazer.

Repito, na psicanálise o psicanalista ajuda a pessoa a se escutar e isso até mesmo quando a pessoa traz a sensação de estar perdido, porque esta sensação na verdade pode ser um estar fugindo do seu desejo, fugindo de si mesmo e, a psicanálise possibilita o reencontrar-se, reconciliar-se consigo mesmo.

Na psicanálise não tem enunciação de diagnósticos, ou seja, o sujeito não sairá de uma sessão dizendo que é borderline, depressivo, etc., isto cabe ao médico psiquiatra. Numa sessão de análise o indivíduo perceberá que suas queixas e demandas são apenas a superfície, a ponta do iceberg.

Portanto, a psicanálise é fundamentalmente um ambiente criado para que você possa efetivamente se escutar. Nós só nos escutamos falando para outra pessoa que diferente de familiares e amigos faz silêncio e nos devolve aquilo que nós mesmos enunciamos.

Desta maneira, o psicanalista não fica trocando ideias, mas está ali como testemunha de um discurso que está sendo exposto e retorna para quem fala, de modo que possa se escutar.

Finalizo com uma frase de Rubem Alves no livro “ostra feliz não faz pérola”: “Consulte sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos”.