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Pernambuco, 16 de janeiro de 2025

Bem Estar

Enfrentar os Sofrimentos e Prosseguir Celebrando | Por Daniel Lima

“Nossas decisões não devem ser para agradar aos outros.”
(Alice no País das Maravilhas)

Postado em 06/08/2022 2022 11:14 , Bem Estar. Atualizado em 06/08/2022 11:17

Colunista

Daniel Lima – Teólogo, Filósofo e Psicanalista/GBPSF/ISFN. @daniellima.pe

 

O olhar para vida e a mudança que queremos.

No meu último texto finalizei falando sobre Amor Fati, uma expressão que vem do latim e significa “Amar ao Destino”. Na prática, o amar o destino é uma atitude mental sobre como enxergar a vida. Como costumo dizer, o que fica de tudo aquilo que vivemos é o significado que damos. Em outras palavras, a maneira como enxergamos a vida, as lentes que usamos, influenciará o significado que daremos para aquilo que vivemos ou estamos vivendo.

Quando mudamos nosso olhar para a vida, até parece que o mundo a nossa volta mudou, porém, na verdade o que mudou foi à nossa maneira de olhar, o modo como lidamos, como enfrentamos as mais diferentes situações. Ter uma atitude mental sobre como enxergar a vida não para exercer mais controle sobre o mundo, mas para assumir a responsabilidade que o destino nos traz e até para reagirmos a ele da forma mais sábia possível. A vida não só parece mudar quando mudamos, ela realmente muda quando mudamos e isso para o bem e para o mal (não vou entrar no mérito da questão o que é mal ou bem, aqui estou falando de maneira subjetiva e singular, o que é bom ou mau para cada indivíduo). A maior mudança que podemos desejar é mudar a nós mesmos não pelos outros, mas por nós mesmos. Às vezes a mudança que queremos este em mudar nossa maneira de olhar.

 

Provocações e incômodos nos ajudam a nos adaptar e prosseguir.

Para mim, tanto no filme como no livro “Alice no país das maravilhas” uma das passagens mais marcantes é um “chá de desaniversário” do qual Alice acaba fazendo parte, mesmo sem entender nada que está acontecendo. O personagem que quero falar um pouco e refletir com você é a Lebre de Março, amiga do Chapeleiro Louco e fiel companheira da hora do chá, insiste em provocar e incomodar a convidada. Como disse no texto da semana passada, o encontro é caótico. Nele são quebradas várias regras de conduta, o que deixa Alice bastante chateada.

A Lebre age de um modo esquisito nas suas intervenções, desafiando o conhecimento e a lógica da menina, sendo uma figura de certo modo inquietante, ao meu ver. Digo inquietante no sentido de que Alice estava acostumada com todo o rito, as normas de etiquetas, as regras de conduta do tradicional chá e de repente, aquilo que era para ser a hora do chá se torna em um verdadeiro caos, a começar pela nomenclatura do que estava sendo celebrado, o “desaniversário”.

 

Celebrar não como negação da realidade, mas como enfrentamento.

Celebrar cada instante não é entrar num estado de felicidade tóxica, não, não é isso. Se trata inclusive daqueles dias ditos ruins, tristes, pois o simples fato de estar vivos nos possibilita reinventar, refazer, recomeçar e seguir. Isso com todas as nossas emoções, claro, sabendo que entre medos, tristezas, alegrias, vamos nos colocando na vida aceitando de peito aberto todos os acontecimentos da vida. A Lebre não só parece deixa Alice inquieta, aborrecida, mas também parece testar seus limites, o que hoje poderíamos falar como “Inteligência Emocional”. Ter inteligência emocional em outras palavras seria gerenciar as emoções, saber lidar com elas de maneira que nos favoreça. Alice poderia sair correndo daquele lugar, mas de alguma maneira aquela estranheza a mantinha ali experienciando o momento apesar de ter ficado de desconcertada a irritada, ela estava ali conversando, enfrentando.

Saber lidar com cada situação é um processo desafiador, pois continuar quando tudo vai bem não é algo difícil, mas quando tudo a nossa volta parece desfavorável, quando nos sentimos sem voz, são nesses momentos em que precisamos de um pouco mais de energia, coragem e determinação para seguir em meio as adversidades, dores e angústias. Saber que podemos nos entristecer e está tudo bem, nada é para sempre, vai passar, porém a questão é como vamos lidar enquanto não passa? Para isso, termino com a frase do filósofo escravo Epicteto já falava sobre isso: “Não procure que tudo aconteça como você deseja, mas sim que tudo aconteça como realmente deve acontecer – então sua vida será serena”.

 

Daniel Lima

@daniellima.pe