Pelos Caminhos do Vinho no Sertão | Por Silvia Graciliano
Em feiras como a ABAV, ter na pauta de palestras técnicas o enoturismo na região do Vale do São Francisco é mostrar a relevância dos caminhos do vinho para o setor turístico.
Postado em 30/09/2022 2022 18:37 , Viagens e Turismo. Atualizado em 30/09/2022 18:37
O setor de turismo, aos poucos, vai retomando a sua normalidade. Durante a última edição da ABAV (e a primeira pós pandemia) a maior feira de viagens da América Latina que aconteceu em Recife nos dias 21 a 23 de setembro, Pernambuco, como estado anfitrião, mostrou toda a sua beleza, diversidade cultural e uma enorme capacidade de realizar grandes eventos.
Foi lindo passear pelo pavilhão de feiras e sentir a importância que os estados e países, que ali estavam expondo, colocam no turismo.
Essa importância reflete que há o reconhecimento e o comprometimento com o desenvolvimento da atividade turística, que os investimentos e as ações promocionais são necessários para fortalecer um setor que proporciona uma grande relevância econômica aos destinos turísticos.
Durante a ABAV aconteceu um excelente circuito de palestras sobre o turismo e seus desdobramentos. Fui convidada para ministrar uma dessas palestras sobre o Enoturismo no Vale do São Francisco, o que me levou a uma pesquisa técnica sobre o que vem acontecendo na região sobre esse tema.
O vale do São Francisco prova, tecnicamente, que a adversidade pode ser contornada e gerar resultados positivos; mostra que não há regiões pobres, mas sim regiões negligenciadas. E então, sob o sol do sertão brota prosperidade. As condições climáticas baixa pluviosidade, alta incidência solar – aliados a outros fatores, se tornam o principal trunfo da vitivinicultura que, com muita pesquisa e tecnologia, faz a região ser a única do mundo a produzir uva o ano inteiro.
E as vinícolas presentes na região abrem a visitação dando um show de charme e profissionalismo que surpreendem, e encantam, quem visita o Vale do São Francisco. E no que diz respeito ao turismo, a “ociosidade” tem que ser útil. Cada vez mais, os turistas estão buscando dar sentido às suas viagens. Desenvolvendo, cultivando, descobrindo novos horizontes…Se abrem para viagens “transformadoras”! O turismo do vinho tem esse poder transformador quando une conhecimento, gastronomia, natureza e lazer
Como reinventar um setor sem negar suas tradições?
Isso vem sendo feito de modo muito criativo na região. Um circuito divertido e variado leva o turista a identificar a relação existente das vinícolas e seus arredores, incluindo as influências da história local e regional, socioeconômica e cultural. A arquitetura das adegas, às águas do rio São Francisco, os rótulos dos vinhos e a harmonização com gastronomia local demonstram com muita sensibilidade o respeito à diversidade regional que compõem o sertão e começa a consolidar a região como um dos principais destinos enoturísticos do país.
Porém, o sucesso do enoturismo na região não pode depender apenas dessas vinícolas, por mais atuantes e criativas que sejam. A consolidação do setor que almeja atrair um número significativo de turistas, deve ser prioridade no desenvolvimento de políticas públicas de turismo para a região. A iniciativa deve ser apoiada pelo poder público, mesmo que apenas para financiar infraestrutura básica.
Questões como o alto preço das passagens (terrestres e aéreas) para se chegar à região, foi brevemente discutido na palestra. Com certeza um entrave que precisa ser analisado pelas instituições públicas e privadas para aumentar o fluxo de visitantes.
Mais de sete vinícolas estão abertas à visitação, com passeios em formatos variados, de um dia inteiro, com opção de navegar pelo São Francisco, ou visitas mais curtas, mas não menos interessantes. A diferença entre a cultura do enoturismo do novo mundo e a do velho mundo pode ser resumida pela pessoa que lhe servirá a sua taça de vinho. Essa experiência no vale do São Francisco toma ares muito intimistas, e com certeza você visitará vinícolas onde é possível conversar com o próprio enólogo da adega.
O enoturismo é muito mais do que apenas degustação de vinhos; abrange o comércio e as técnicas dos vinhedos, gastronomia e bem-estar, entre outros aspectos, Uma região onde há pouco mais de três décadas não via um caminho para desenvolver o turismo, hoje desponta com muita propriedade e fundamentada no seu aspecto mais relevante: a condição climática.