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Pernambuco, 30 de novembro de 2024

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As cadeias produtivas e as atividades difusas do agronegócio de Pernambuco

Há de convir que em três décadas houve uma mudança radical na oferta de serviços de apoio ao pequeno e médio produtor da região.

Postado em 15/12/2022 2022 19:30 , Colunistas. Atualizado em 15/12/2022 13:49

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Jornal do Sertão


O tradicional e o moderno

Considerando-se que Pernambuco teve como primeira base de sua economia a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, um setor que ao longo de cinco séculos evoluiu de sucroalcooleiro para sucroenergético com o escalonamento, nos últimos cinquenta anos, da produção do álcool, seguindo-se, mais recente, da cogeração de energia.

Ainda levando-se em consideração que seguindo-se à cana-de-açúcar, a cadeia produtiva da pecuária que marcou a ocupação do território e ainda hoje continua como a principal atividade econômica para o semiárido dependente de chuva.

Avaliando-se os avanços que ocorreram quase que de forma simultânea com a fruticultura irrigada e a avicultura que passou a ser uma atividade de alta intensidade tecnológica, tornando Pernambuco mais importante estado brasileiro na produção de ovos e o oitavo na produção de carne de frango, além de persistir de modo invejável com a produção de galinha de capoeira, também conhecida como galinha caipira.

No caso da fruticultura irrigada, também fruto dos esforços governamentais e empresariais a partir dos anos sessenta do século passado, esta conseguiu fazer do estado como maior exportador de uvas de mesa e de manga, um dos mais importantes produtores de melão e uma vinicultura somente ultrapassada pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

            Neste instante algumas outras opções encontram-se em processo de mudanças positivas, a exemplo da caprino e da ovinocultura; da produção de grãos, em particular do milho em áreas do Agreste, Sertão do Araripe e áreas de baixio de modo geral, da consolidação da produção de feijões de arranca e de corda, a partir do aumento da demanda internacional, uma vez que ao longo do tempo, o brasileiro tem reduzido seu consumo do famoso feijão com arroz e, pasmem; da produção de túberas como o inhame e a batata doce destinada aos mercados interno e externo.

Há a clara percepção que a produção de túberas, de culturas condimentares, medicinais, a apicultura e algumas frutas e hortaliças formarão um xadrez de cadeias produtivas difusas diretamente ligadas ao pequeno e médio produtor, da Mata ao Sertão.

Fortalecimento das ações de pesquisa e extensão

Para que, as cadeias menores e a pecuária de modo geral possam prosperar depende de uma ação de transferência de tecnologia moderna que procure otimizar os fatores de produção e dois elementos incorporados ao ecossistema do agronegócio local: a internet e a educação superior. Esses dois fatores e, em particular o último, são determinantes para que a próxima década seja considerara, mesmo com as reais ameaças de secas e outras intempéries possa ser considerada o momento do ponto de virada da reação química do desenvolvimento local. Daí surgirá um Nordeste que não será conhecido como o é ainda hoje, pelos efeitos da seca, das migrações, do desemprego, do animal morto, da criança brincando com ossos, do carro-pipa e da dependência secular em migalhas.

Os programas sociais têm tido um importante papel na mitigação das necessidades básicas. Não sendo à toa que em pouco tempo o país conseguiu sair do mapa da fome, um indicador das Nações Unidas para aferir o desenvolvimento humano e ver-se retornando ao mesmo sem que grande parte das pessoas se deem conta ou sem que enrubesça os operadores de mercado. Algo quase insano, mas longe de ser importante para parte da população que conta com alimentação servida três vezes ao dia.

Vale a pena se trabalhar no formato de consórcio?

Há de convir que em três décadas houve uma mudança radical na oferta de serviços de apoio ao pequeno e médio produtor da região. À medida que as instituições estaduais de pesquisa e extensão foram sendo sucateadas, perdendo a capacidade de ação, algo que jamais deveria ter ocorrido, o espaço foi sendo ocupado por outros entes e pela iniciativa privada, uma tendência a ser reconhecida e apoiada.

Os formuladores de políticas e gestores estaduais e municipais poderão fazer de conta que não estão vendo o que se passa e insistir em sepultar suas secretarias de agricultura e instituições coligadas ou aproveitar a oportunidade para criar um ambiente de diálogo entre as partes de forma que Pernambuco e todos os estados da região Nordeste possam utilizar-se melhor dos serviços prestados pelo sistema S, por exemplo.

No caso do campo ressalte-se o trabalho do Sebrae, do Senar, do Sesc; das empresas privadas de assistência técnica, em sua grande maioria, pequenas e médias; das empresas envolvidas na comercialização de insumos e, consequentemente no direcionamento sobre o que vem sendo utilizado na roça; dos bancos de desenvolvimento como atores responsáveis pelo crédito rural e pelos institutos, universidades e escolas privadas que contam com uma agenda de ensino voltada às atividades agrárias.

Há como se estabelecer um formato planejado de trabalho em que se sintam partes o público e o privado? A resposta mais clara é que o estado deve assumir o papel de papel de planejador e executor das políticas que interessam diretamente ao pequeno e médio produtor e que traga para este guarda-chuva as demais instituições envolvidas. Em alguns casos foi dado o pontapé, a exemplo do programa Força Local, liderado pela ADEPE, em apoio à diversas cadeias produtivas e seus agentes organizados. Um exemplo a ser seguido e potencializado sem considerar que a construção dessa rede de relacionamento será indispensável, independente do formato que se considerar mais adequado para cada estado ou região.

As baterias serão recarregadas

As escolas, universidades, instituições de ensino de modo geral estão aguardando o início do recesso escolar que se inicia na próxima semana, seguindo-se das férias do final do ano. Apesar do tempo não parar, em especial quanto as chuvas que podem ocorrer, que seja um tempo de reflexão para todos e em especial para os novos gestores de forma que sejam o modelo a ser adotado para o ambiente rural nos próximos quatro anos. Uma ótima temporada de recarga das baterias a todos.

Quero aproveitar o momento para agradecer a APEENGE – Academia Pernambucana de Engenharia, pela honra em acolher-me como um de seus confrades no último dia 13 de dezembro de 2022. Este é um colegiado que conta com quarenta profissionais das engenharias que têm contribuído nas diversas áreas com o desenvolvimento do estado de Pernambuco e da região Nordeste.

 

1Professor Titular da UFRPE-UAST

Serra Talhada, 14 de dezembro de 2022