
Momento de agradecimento e novas iniciativas
O novo ano será iniciado há poucos dias com a perspectiva de que, tal qual o pródigo 2022, se tenha uma boa colheita para as culturas alimentares, espécies forrageiras e, principalmente, para o acúmulo de águas nos açudes, poços, cisternas, barragens subterrâneas, aquíferos e grandes barragens.
Postado em 29/12/2022 2022 20:00 , Colunistas. Atualizado em 29/12/2022 14:27
Jornal do Sertão
Mais um ano em que a caatinga permaneceu verde
Para quem vive no Sertão sabe que a partir de maio espera-se a mudança na cor da vegetação, passando do verde, ao amarelo, ao marrom e atingindo o cinza tão característico em nossa paisagem a partir de agosto. O ano de 2022, tal qual o anterior nos presenteou com uma caatinga que sequer teve a oportunidade de se tornar amarela em toda sua extensão. Tão logo o processo de resposta à pouca água no solo se iniciou, chuvas intermitentes visitaram a região e, basicamente, a cor das serras e baixios permaneceu inalterada durante todo o ano.
Na realidade, desde a primeira semana de novembro as precipitações ocorridas foram tal que se asseguraria um ciclo de milho ou sorgo granífero se houvessem sido semeados híbridos ou cultivares que florescem entre 45 e 50 dias. Incrível o fato de se contar com uma safrinha antes do período chuvoso.
O novo ano será iniciado há poucos dias com a perspectiva de que, tal qual o pródigo 2022, se tenha uma boa colheita para as culturas alimentares, espécies forrageiras e, principalmente, para o acúmulo de águas nos açudes, poços, cisternas, barragens subterrâneas, aquíferos e grandes barragens.
Provavelmente a região do Araripe, por onde as chuvas normais se iniciam, com o solo preparado a receber as sementes ou as manivas de mandioca. Tal qual registrado em crônicas anteriores, nas últimas duas décadas têm se registrado uma antecipação das chuvas em algumas regiões do Nordeste a exemplo do Sertão do Pajeú e, certamente, a janela em que há maior probabilidade de colheita para a cultura do milho serão os plantios a serem realizados durante o mês de janeiro, em caso de as chuvas persistirem nas duas primeiras semanas do ano.
Novos governos, novas expectativas
A partir do primeiro dia de janeiro Pernambuco contará com uma nova governadora e o Brasil com um novo Presidente. Eleitos em disputas renhidas com um período de embate político acalorado. Em primeiro lugar que ambos assumam seus postos com a clara visão das dificuldades a encontrar e a tranquilidade de não se desesperar perante as limitações ou desafios.
No âmbito estadual, o fim de um longo ciclo de gestões do Partido Socialista Brasileira chega ao ocaso. Não há de esperar mudanças radicais uma vez que a governadora também é fruto das forças que estiveram no poder durante este período. Considere-se uma dissenção do grupo político encabeçado pelo então governador Eduardo Campos. Há de se ver o que muda. No caso da Agropecuária há expectativas de um novo formato de gestão e de preocupação efetiva às instituições que fazem a atual Secretaria de Desenvolvimento Agrário e, consequentemente aos pequenos e médios produtores que, por parte do estado testemunharam uma desidratação da Secretaria e, consequentemente de seu foco e atribuições.
No âmbito federal o que se espera é uma maior atenção à ciência e tecnologia aplicada a um dos setores que há quarenta anos tem crescido e se tornado o principal apoio à segurança alimentar e à balança comercial brasileira. Com a drástica redução das atividades industriais, há de se esperar que em primeiro lugar o setor agropecuário seja gerido de tal modo que os ganhos de produção permaneçam como têm ocorrido nas últimas décadas.
A pandemia Covid 19 e a Guerra da Ucrânia mostraram a fragilidade do atual modelo de agricultura brasileira em operação. Depende-se de aproximadamente 85% de produtos importados para os fertilizantes, mais de 90% para os defensivos e algo próximo de 100% para as máquinas e equipamentos mais sofisticados como colheitadeiras, plantadeiras, sistemas de irrigação subsuperficiais, sensores, imagens de satélites.
Alguns caminhos deverão ser refeitos
Para o governo Lula, a situação em que ele encontrará a nação, do ponto de vista de capacidade efetiva de mão-de-obra qualificada, é imensamente superior ao que encontrou em 2003. Em seus dois mandatos anteriores foram criadas universidades federais, mais de uma centena de campi, a exemplo de várias cidades de Pernambuco, incluindo Serra Talhada e mais de quatrocentos novos institutos federais de educação em todo o Brasil, em especial nas cidades de médio porte do interior do país.
Tal qual posto em semanas anteriores, hoje, não há desculpa de que qualquer plano de desenvolvimento careça de pessoas preparadas para tal. Não é à toa que o deslocamento de jovens do interior para estudar o ensino médio e superior nas capitais ou cidades maiores é mínimo, independente da profissão.
O grande desafio é o que ser feito com os milhares de jovens egressos das faculdades e universidades que, em sua maioria ficam à deriva e à espera de serem aproveitados por empregos públicos que a cada dia se tornam mais difíceis.
Há alguma opção para este quadro?
Com a economia voltando a crescer, aquecerá o comércio, elevará a demanda por conhecimento e aumentará a chance de sucesso de novos empreendimentos, a exemplos de startups. Logo, um programa nacional de suporte à novas empresas, negociado entre o governo federal e estaduais, visando a criação de novas empresas, será fundamental para o aproveitamento dos jovens e a aceleração da inovação. Não é uma iniciativa fácil e que deva ser posta em prática, com resultados automáticos. Entretanto vários países do mundo estão passando por situação similares e investindo pesado no ingresso dos jovens em alguma atividade econômica.
No caso do agronegócio, a utilização intensiva de novas tecnologias será determinante para superar as limitações ambientais, a exemplo da disponibilidade de água no Semiárido como a inserção de forma mais qualificada dos produtos desse ambiente em mercados mais competitivos e que melhor remuneram.
Que se aguardem os primeiros passos das novas administrações e, assim, sentir quão conectadas estarão os entes dos executivos federais, estaduais e municipais com as instituições de pesquisa, ensino e inovação, suas agendas e os jovens que se encontram e estarão no mercado nos próximos anos.
Há um conjunto de inciativas bem mais econômicas do que se investir na formação dos jovens e vê-los sem se localizarem do ponto de vista profissional ou aproveitados em subempregos para os quais seus conhecimentos serão pouco úteis.
Feliz Ano Novo a todos colaboradores e leitores do Jornal do Sertão.
1Professor Titular da UFRPE-UAST
Serra Talhada, 27 de dezembro de 2022