
SUS distribui pioneiramente medicamentos naturais produzidos por farmácia do Sertão
A Farmácia Viva em Afogados da Ingazeira, única do Sertão pernambucano, produz e distribui gratuitamente fitoterápicos para usuários do Sistema Único de Saúde.
Postado em 22/02/2021 2021 14:01 , Saúde. Atualizado em 22/02/2021 14:28
Mesmo na Pandemia, Sertão vence as dificuldades e se destaca pelo pioneirismo
O uso de plantas medicinais é uma tradição repassada entre gerações sertanejas. É comum encontrar raízes, ervas e produtos naturais nas feiras populares do interior pernambucano para aliviar dores, acabar com a tosse e tratar inflamações. Lambedores de mastruz e romã, por exemplo, são muito utilizados na região. Buscando perpetuar essa tradição e aproveitando-se do conhecimento científico das propriedades medicinais das plantas, a Prefeitura de Afogados inaugurou a Farmácia Viva, uma iniciativa pioneira no Sertão.
Ao longo de mais de 2 anos, a Secretaria de Saúde do Município atuou para construir o projeto. A iniciativa agrega três pilares fundamentais: a sementeira, onde são cultivadas as plantas; o laboratório farmacêutico, para a manipulação e consequente transformação desses princípios ativos em medicamentos; e a Farmácia Viva propriamente dita, que é o espaço para distribuição gratuita dos medicamentos à população. O espaço fica em frente à Praça Carlos Cottart, no Centro da cidade, e funciona em horário comercial, de segunda a sexta.
A Prefeitura destaca a importância da iniciativa, tendo em vista que agrega o saber popular ao conhecimento científico, trazendo para as prateleiras da farmácia, o que os antepassados já faziam há muito tempo. “Além de mais baratos, os medicamentos produzidos com os princípios ativos das plantas, também são mais saudáveis pois privilegiam o que a natureza nos oferece ao invés da química industrial,” avalia.
Ainda segundo a Prefeitura, a Farmácia Viva conta com um veículo exclusivo para fazer o transporte de medicamentos e de plantas, entre a sementeira e a unidade.
Melhorias na saúde da população graças ao resgate de tradições da medicina natural
O projeto contou com a coordenação do renomado médico e estudioso das propriedades medicinais das plantas, Celerino Carriconde, do Centro Nordestino de Medicina Popular. Atualmente o coordenador é o farmacêutico Fabrício Menezes. São produzidos xaropes, lambedores, sabonetes, pomadas e tinturas das mais diversas plantas, como aroeira, confrei, espinho de cigano, mastruz, melão de são caetano, hortelã miúda, alecrim, dentre outras.
Medicamentos fitoterápicos disponíveis.
A coordenação da Farmácia Viva destaca alguns benefícios dos produtos entregues gratuitamente.“Lambedor de mastruz, romã e hortelã indicado para tosse, expectorante e anti parasitário; pomada de atipim para dores reumáticas; pomada de confrei combate hemorróidas e é cicatrizante; sabonete de melão de são caetano e confrei para micoses da pele, pano branco e parasitoses dermatológicas; sabonete de aroeira tem função de calmante sobre a mucosa inflamada.”
O projeto também se preocupa com a qualidade em todas as etapas de produção, desde a matéria-prima. “A nossa técnica em agroecologia Ana Paula, dá suporte na sementeira de forma que a produção das ervas seja de forma orgânica, sustentável, sem algum tipo de praguicida ou agrotóxico”, informa a coordenação.
Em entrevista ao Jornal do Sertão, o farmacêutico Fabrício Menezes informa sobre os produtos disponíveis na unidade e a perspectiva de ampliar a variedade. “A citronela, por exemplo, que é repelente para evitar dengue, Zika e Chikungunya. Atualmente temos 18 produtos e pretendemos ao todo acrescentar mais 15 em três etapas. Sendo 5 na primeira etapa, mais 5 em agosto e mais 5 no fim do ano. Nossa meta para 2021 é totalizar 33.” A dispensação dos remédios só é feita com receita médica da rede municipal de saúde.
Ações educativas buscam promover o uso de fitoterápicos
Definidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como remédios derivados e reproduzidos a partir de vegetais ou plantas considerados medicinais, os fitoterápicos passam pelos mesmos controles e estudos clínicos que outros medicamentos tradicionais, o que define sua eficácia e segurança para o uso humano. Por isso, além de produzir e distribuir os medicamentos naturais, a Prefeitura lançou uma cartilha sobre o uso correto das plantas, visando apresentar a importância dos fitoterápicos, com exemplos diversos de suas características e utilização. A cartilha será trabalhada nas escolas da rede municipal junto aos alunos, como forma de disseminar o conhecimento a respeito das plantas medicinais.
Cartilha distribuída gratuitamente.
Ministério da Saúde reconhece importância da iniciativa, que é única na região
A Farmácia Viva afogadense foi classificada em um edital de seleção pública do Ministério da Saúde, projeto de apoio à estruturação de Farmácias Vivas, conforme a Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). Em todo o Brasil, apenas dez projetos foram selecionados. Em Pernambuco, apenas Afogados, que ficou em quarto lugar, e Caruaru, na décima posição. O edital visa dar suporte técnico e financeiro ao projeto, levando em conta a sua alta relevância.
A proposta prevê que essas farmácias realizem as etapas de cultivo, coleta, processamento, armazenamento de plantas medicinais, preparação e dispensação de produtos magistrais e oficinais de plantas medicinais e fitoterápicos.
Segundo o Ministério da Saúde, a Farmácia Viva pode disponibilizar produtos com custos menores, contribuindo para o abastecimento da Assistência Farmacêutica na missão de atender a população brasileira usuária do SUS. Além de Afogados da Ingazeira e Caruaru, também foram selecionados projetos dos municípios de Araraquara (SP), Salvador (BA), Varginha (MG), Cachoeira de Macacu (RJ), Brumadinho (MG), Pindamonhangaba (SP), Quijingue (BA) e São Cristóvão (SE).
JS Saúde